Por Ariane Salomão |
Para se proteger, o sofredor carrega em si um escudo e um machado.
Usa o escudo para proteção, que pode vir através de palavras afiadas, uma autodefesa desnecessária e críticas incisivas — seja a ele, seja ao outro.
Já o machado pode ser representado pela dor que causa ao outro, ele quer ferir, quer que o outro sinta a dor que ele sente.
Se sente ciúmes, causa ciúmes.
Se sente vergonha, causa vergonha.
Se sente tristeza, causa tristeza.
Se sente ódio, causa ódio.
E, quando vamos afundo, encontramos um rastro de sofrimento em sua história. Foi uma criança machucada, um adulto isolado. Carrega cicatrizes que não se fecham porque nunca procurou ajuda para cicatrizá-las.
Sente cada uma delas dentro de si, mas não consegue nomeá-las. Na verdade, foge de dar nome a dor, mas consegue dar o sujeito.
Sente, ressente, repete, converte.
Em sua face, carrega toda a dor e em sua língua afia o que vai causar ao próximo.
Com isso, custa a entender que cada cicatriz é legítima, mas que não lhe autoriza a causar dor ao outro.
Sua dor é sua. Assim como responsabilidade de entendê-las, ressignificá-las e cicatrizá-las.
Publicação realizada originalmente em meu Instagram no dia 15/04/2024